sábado, 5 de março de 2011

Passaram pouco mais de cinco meses desde a última vez que tive o prazer de estar na Castanheira. O que faz deste o momento ideal para escrever sobre as memórias desta Aldeia. Porque o tempo é o único conceito que tem a virtude de filtrar recordações, tornando-nos progressivamente mais exigentes e selectivos quanto às que de facto vale a pena manter (as intemporais, portanto...), seja pelo saudosismo que prorrogam no próprio tempo, pela felicidade com que nos prendaram, pelo seu simbolismo, pelo cunho de experiência única ou marcante...

E assim sendo, apraz-me recordar com imensa saudade a última digressão à Castanheira, onde tive o privilégio de participar activamente nas festas em Honra de Nª Sra. da Conceição. E tive o ainda maior prazer de poder vibrar, ao sentir o pulso ritmado e vigoroso de uma aldeia que está muito longe de estar adormecida... São as Pessoas que marcam as ocasiões, sem qualquer margem de dúvida, mas também não será de ignorar que os sítios onde as ocasiões se proporcionam são parte integrante de quem neles revê as suas raízes. E tendo tido o previlégio de sentir a prazenteira genuinidade, acolhedora hospitalidade e afável generosidade das gentes da terra, não resisto a observar que a Castanheira é uma daquelas pequenas grandes aldeias que podia perfeitamente adoptar como “a minha terra”.

Não foi esta a única ocasião que estive na Castanheira. Mas é factor comum a todas as visitas a sensação familiar e reconfortante de “estar em casa”. E nos dias que correm esta sensação é cada vez mais rara. Ou porque nos tornamos progressivamente mais exigentes com as nossas escolhas (será?...) ou então porque escasseiam locais em que consigamos projectar o ideal de uma vida: a concordância e sintonia entre a magistralidade e imponência do que de mais belo a natureza nos proporciona, aliada ao conforto incrivelmente simples mas exponencialmente prazeroso da obra erigida pelos Homens da terra, a pulso, a custo de muito suor e outras tantas lágrimas. E cada vez mais revejo neste conceito o segredo da felicidade. O retorno cabal às origens, à essência de uma Vida, às relações que perduram no tempo, aos laços de família ou amizade que fazem das nossas pequenas estórias quotidianas a História dos nossos sucessores.... e da Vossa (permitam-me a presunção de escrever “nossa”) Aldeia.

E assim sendo anseio por voltar. Para rever Pessoas, para reviver momentos, para poder disfrutar no expoente da frugalidade humana de cada um dos cinco sentidos a que a aldeia da Castanheira tem o dom de agradar de forma singular. E assim saciar a alma, com incrivelmente simples mas incomparavelmente agradáveis... memórias...

Hugo Cardoso

in Castanheira Jovem, Boletim nº 31, Dezembro de 2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Constatação

Percebo agora que os trinta, para o bem e (infelizmente) para o mal, são a idade em que finalmente existem muito mais certezas do que dúvidas...

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Já está!

Pelo que escrevo será fácil deduzir que quando respeita à vida privada gosto de falar muito mas sem dizer (quase) nada. Por ser um momento de raro prazer (subtil, mas prazeroso), fiel ao propósito deste cantinho na web plantado, hoje abro a excepção. Sou um FELIZ proprietário endividado!..

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cenas dos próximos Capítulos...

Faltam 12 dias para fechar o ano e vou querer brindar...

A uma nova página (e às que ficaram para trás)
À caneta que a escreve (deslizando firme em busca da felicidade)
A isso (ao estar feliz)
Ao Amor (e aos desamores)
À Paixão (e à desilusão)
Às amizades que perduram (porque as outras nunca o foram)
Ao Prazer (e que prazer...)
À Língua Espanhola (se a ti te gusta a mi me encanta)
Ao Vinho e ao Latim (in vino veritas)
Ao novo lar (home sweet new home)
Ao sucesso (tantas vezes feito de insucessos)
À vida (que me inspira)
Aos parêntesis (para quem ainda não acredita que não passo sem eles)
A quem me trouxe à Vida (e a quem me afastar da morte)
A Vocês (resistentes, loucos quiçá, que se dignaram e me honraram ao ler até ao...)

Ao FIM!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

As intermitências da Vista (... e da Vida...)

É com inusitada frequência que descuramos a capacidade de adaptação às circunstâncias que nos "equipa de série", à cegueira que nos assola sem nos atraiçoar por um momento que seja com a perda do sentido visual com que o extraordinário processo de evolução da espécie nos dotou. Retira-nos Visão sem em momento algum nos privar da capacidade de ver...

Deste aparente paradoxo resulta uma quase tão óbvia evidência: é tão fácil cegar num mundo em que só vemos o que queremos e em função do que cremos!... Perdemos demasiado tempo limitados pelo nosso campo visual, tão restrito quanto o que conhecemos da nossa própria essência. Perdemos ainda mais tempo a fundamentar o que vemos, quando de tudo o que precisávamos era fechar os olhos, deixar de ver por uns instantes, e ir um pouco mais além. Valorizar o que realmente interessa, o que de facto nos proporciona momentos de rara felicidade, que nos inundam de energia para enfrentar o futuro...

Que me perdoem a frieza ou o despropósito das minhas palavras. Mas não deixo de partilhar o que penso (na medida tão ténue do que é partilhável...). E que mais não é do que a crença de que a grande diferença entre ser cego e ser invisual está na excepcional capacidade dos que são assolados por esta última condição se adaptarem às adversidades, e tudo porque delas estão conscientes...

O ideal está longe do óptimo. Que por sua vez está a anos luz do medíocre. É um facto. Faz o que digo, não faças o que faço. Cego não é quem não vê. É quem por perder demasiado tempo a olhar para o acessório, vive uma intermitência da Vida, de que apenas anseia sair no dia em que se consciencializa da cegueira que o assola, porque até lá acreditou tão somente no que (não) queria ver... Perdemos demasiado tempo da Vida afectados por esta cegueira metafórica, inebriante, sórdida, a roçar por vezes um estado de espírito colectivo de manifesta conformação.

Tudo isto para partilhar que a evolução do blogue não foi excepção à condição do seu autor, a esta intermitência da Vida que tem tanto de má quanto de necessária, porque o que não nos extingue faz-nos mais fortes...

E assim anseio, sôfrego, por vezes ofegante, regressar ao que de facto valorizo, às linhas da escrita que tanto alento me dá, assim como corpo e estrutura aos pensamentos que vagueiam desordenados até ao momento em que preenchem mais uma página da Vida...

N.A.: O título peca pela falta de originalidade. Devo a sua adaptação à imaginação infindável de um grande Autor, José Saramago (escreveu As Intermitências da Morte). O conceito, esse, devo-o em parte à inspiração do Ensaio sobre a Cegueira, transposto brilhantemente para o grande ecrã num filme que recomendo vivamente, para (ironicamente) observar de olhos bem abertos...

Aos descrentes na escrita de Saramago, leiam com olhos de ver e perdoem o quanto custa pelo bem que nos faz...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

De uma conversa...

É bem vinda a inevitabilidade de uma certeza fatal em troca da angústia e ansiedade de mil incertezas...

...e tudo porque faz parte da Natureza Humana não saber lidar com o que desconhece.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Liricamente polido

Tens uns olhos tão lindos, tão lindos, tão lindos que...

domingo, 20 de julho de 2008

Em Vinte e Uma Linhas...

Sinto que a Vida é como um Livro...

Em que cada lágrima vinca na eternidade o papel das páginas que se viraram;
Em que cada sorriso marca para todo o sempre a recordação das que se leram (e escreveram);
Em que o toque deixa um cunho sentido de proximidade;
A que a cada virar de página nos faz perceber a importância e o valor crescente das que ficaram para trás (e quantas vezes só o tempo nos permite sentir o devido valor)...
Em que por muito que o olhar nos separe das linhas que escrevemos, é temporalmente indelével a sua marca no nosso Ser;
A que a cada nova página nos faz acreditar no Futuro (e reviver o passado).

Na certeza porém de que...

Virar uma página não significa necessariamente mudar de Capítulo;
O fascínio da Vida está (como nos livros) no rumo que (ainda) não conhecemos, sem nunca duvidar que existe;
As lições do passado nada valem por si só. Porque os verdadeiros ensinamentos retiramos no momento em que delas nos socorremos para interpretar uma nova página...

E assim sendo desejo ávidamente escrever o presente, inspirado no que me transcende e me conduz... na Vida... na Paixão... no Mar que nos afasta até ao infinito (e quiçá nos une para álem do desconhecido?)

quarta-feira, 18 de junho de 2008

"Como prometido" ou "Na versão destilada"...

Há uns tempos um grande Amigo que em breve inicia uma nova fase da Vida ("abandonando os Comandos para integrar os GOE") sensibilizou-me particularmente com um gesto genuíno de Amizade. Esta seria razão mais do que suficiente para que as linhas que se seguem fossem de tributo à mesma. Mas porque a amizade se retribui em sede própria não resisto a cumprir com o anteriormente prometido e a dedicar um post em exclusividade ao objecto de tamanha sensibilização... a notícia da presença de uma garrafa de Famous Grouse onde, pela hospitalidade que se adivinha, terei todo o gosto dela disfrutar!

Sou um fã incondicional da destilação da cevada, da adição do malte. Não necessariamente de Famous Grouse, escolha que de resto é condicionada por uma questão de... chamemos-lhe... oportunidade, mas de qualquer Whisky de boa qualidade. O Whisky é na minha sensorialmente parcializada opinião a bebida social por excelência. Scotch, Single Malt, Blended. Disfrutado Straight, Single, On the Rocks ou com Água Castelo. Não será por acaso que a origem etimológica da palavra provem da versão gaélica de "Water of Life". Porque os purpuros prazeres nascem de momentos de inspiração e a Vida inspira-nos pelas pequenas grandes coisas que nos proporciona.

Muita conversa esbanjei sob o pretexto de um Whisky. Muitos Whisky's bebi sob o pretexto de uma conversa. Mas para mim o que realmente importa é que atrever-me-ia a arriscar que estou apto a recordar com nostalgia cada um desses momentos (e acreditem que para minha felicidade foram muitos), e se isso acontece não será certamente por acaso...

domingo, 15 de junho de 2008

Multidões

A capacidade de mobilizar multidões é para mim os dos mais fascinantes fenómenos Sociais da Sociedade Moderna. A união revela uma força extraordinariamente superior à soma das vontades individuais. Deter a destreza e a habilidade de o conseguir é dominar o poder da liderança de opinião e dos desígnios humanos.
Cada vez mais os fenómenos sociais de massas são fruto, numa primeira instância, de fortes raízes culturais mas também e em grande parte de um trabalho complexo, estrategicamente planeado e na maioria das vezes bem conseguido de acção motivacional que na maior parte das vezes nos transcende no que ao racional respeita.
O conceito de mass marketing, que por uma questão de formação académica me é particularmente familiar, em nada é alheio ao anteriormente descrito. Pelo contrário, reflecte uma atitude intencional e reflectida de intervenção psicosocial, tendo em vista o despertar de motivações e o gerar de comportamentos.
Senão vejamos o exemplo de fenómenos recentes que não tendo movido montanhas suscitaram o poder de nos fazer caminhar até elas...

O Rock In Rio tornou-se num evento cultural de referência no nosso país. Mais do que a identificação com um cabeça de cartaz sonante, moveu-nos a noção de pertença ao grupo dos que marcaram presença. Porque valeu efectivamente a pena estar presente no meio da multidão e poder respirar o som, o espaço, o ambiente de festa que se viveu porque alguém pensou em criar as condições para que assim fosse. Tive o enorme prazer de o poder fazer no dia de abertura e no dia do fecho. Valeu a pena em primeira instância e acima de tudo pelo prazer de poder estar e partilhar o momento com as pessoas de quem gosto. Valeu em segunda instância pelo prazer de poder parar no tempo e olhar fascinado para a multidão que vibrava em uníssono, movida pelos acordes de uma música que tocava muito para além do audível. E só depois vêem os concertos, o verdadeiro pretexto da presença que muitas vezes foi relegado para segundo plano (o plano da cerveja falou particularmente mais alto ao final da segunda música de Ivete). Ainda assim foi interessante ver o estado de degradação em que se pode actuar perante uma multidão (a minha t-shirt I saw Amy Winehouse sober não podia estar mais longe da verdade). Foi de igual modo interessante assistir a um energético Lenny Krevitz. Ao ritmo contagiante dos Orishas (pena que não estivessem perante o seu público alvo). Ao som portentoso dos Muse.
Mas ainda mais interessante foi perceber que o público a que se destinava cada um dos dias era totalmente distinto e o resultado da estratégia de elaboração do cartaz totalmente conseguido. Esse é o verdadeiro trabalho de marketeer...

Exemplo ainda mais abrangente quanto à dimensão e reunião de consenso: Europeu de Futebol 2008. Quem me conhece sabe que não vibro particularmente com as emoções do futebol. Nada percebo sobre futebol do ponto de vista estratégico ou dos seus intervenientes. Apenas jogo na perspectiva de dificultar a vida ao adversário recorrendo às mais elaboradas técnicas de... rugby. Mas como não poderia deixar de ser vibro com as emoções de defender a camisola numa causa comum. Atrevo-me a arriscar que eu e mais uns quantos milhões . O cerne da questão e o segredo do sucesso massivo parece-me estar na expressão "causa comum". Trata-se da oportunidade por excelência de todos, quase sem excepção e com maior ou menor grau de participação, nos envolvermos emocionalmente. Como se por um momento na vida concordássemos com as decisões, os gestos, as atitudes, as acções, o objectivo final e disso retirássemos o extraordinário prazer de viver um orgulho comum ou a incontornável angústia de partilhar uma tristeza colectiva, ambos de proporções únicas. A Vida era tão mais simples (provavelmente tão mais aborrecida) se assim fosse com todos os fenómenos sociais...
Pois que se continuem a erguer as bandeiras nas janelas, pois que se continue a partilhar o sofrimento pelas derrotas, pois que se continuem a comemorar efusivamente cada um dos golos e das vitórias. Pois que seja um estado de graça efémero se isso contribuir sem igual para o prazer colectivo...

Apesar de tudo adoro a cidade em que nasci. Ouvia ontem à noite alguém dizer que ironizamos particularmente sempre que dizemos mal do que é Nacional, porque no fundo não cremos que assim seja (ainda que queiramos que possa vir a ser diferente). Trata-se de um hábito latino culturalmente enraizado e evolucionalmente compreensível. Concordo em absoluto. Ponderados pós e contras não deixaria de voltar regularmente ao encanto da cidade de Lisboa. E Lisboa tem muito mais encanto na Noite de Santo António. Porque as tradições se recriam, se renovam, e com isso mostram-se aptas a mobilizar multidões. Percorrer as ruas estreitas e íngremes de Alfama ao som de música que não gosto, de um fumo que abomino, na direcção que a multidão me impõe e na esperança de conseguir uma imperial onde ainda verta parece ter tudo para que não regressasse. Pelo contrário. Vale precisamente pelas expressões de alegria, de felicidade, pelo ambiente simples, humilde, mas extraordinariamente sincero, único, genuíno. Porque ansiamos por momentos como esse, os que teimam em escassear...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Prazer pela Vida II

Acredito que a Vida é muito mais forte do que a morte. Porque nada do que é definitivo tem a força, o valor e o fascínio da efemeridade. Ao poder eterno da inevitabilidade resignamo-nos quando assim tem de ser. Pelo valor extremo e dislumbrante do que significa estar vivo lutamos até à última das nossas forças. Como se a Vida fosse Paixão ardente e a morte Amor fatal...

sábado, 17 de maio de 2008

Não há dúvidas!

Há coisas que são mais fortes que nós...

domingo, 4 de maio de 2008

O Paraíso aqui tão perto...

Roendo uma laranja na falésia
Olhando o mundo azul à minha frente
o rouxinol na redondeza
o calmo improviso no poente

Em baixo fogos trémulos nas tendas
Ao largo as águas brilham como prata
E a brisa vai contando velhas lendas
De porto e baías de piratas

Havia um pessegueiro na ilha
Plantado por um vizir de Odemira
Que dizem por amor se matou novo
Aqui no lugar de Porto Côvo

A lua já desceu sobre esta paz
E reina todo este luzeiro
À volta toda a vida se compra
Enquanto um sargo assa no braseiro

Ao longe a cidadela de um navio
Acende-se no mar como um desejo
Por trás de mim o bafo de estio
Devolve-me à lembrança o Alentejo

Porto Côvo, Rui Veloso

Um destino que renasce e se reinventa a cada nova visita, como se da primeira se tratasse (e com muito mais encanto na pacatez da Primavera ou do Outono...). Com o fascínio, a emoção e a paixão das primeiras vezes. Novamente o experimentar daquele apertar de peito que se sente mas não se explica... Assim é com Porto Côvo. Assim é com o vislumbrar do cenário idílico com que nos deparamos quando percorrida de "cabelos ao vento" a distância que separa Sines do Paraíso.

O encanto está na rebeldia de um mar indomável, na beleza das rochas escarpadas, das falésias imponentes, dos campos verdes de ténue relevo a perder de vista. E simultaneamente no misticismo pitoresco de uma aldeia que sobe resistir ao tempo, renovando a História, recriando estórias e fazendo de uma pequena ilha ao seu largo, de pequenas praias abrigadas, de um pacato porto de abrigo e de uma Praça que na sua reduzida dimensão abraça todo um mundo de emoções e sensações, a sua singela bandeira.

Mais um fim de semana inesquecível. Reservo-me à discrição de partilhar apenas uma das sensações vividas. O plena consumação do pecado da gula, num fim de semana prolongado que se revelou marcadamente gastronómico. Senão vejamos:

- Sabendo que o caminho da costa alentejana e da travessia do Sado tem outro encanto, uma paragem em Setúbal era inevitável. E assim sendo não havia como resistir à tradição do choco frito. E ao gosto inigualável de um robalo escalado que serviu de aperitivo às iguarias do fim de semana. Tempo de siesta no Ferry a caminho de Tróia...

O Sol radiante adivinhava bons dias de ócio no calor reconfortante e energizante da Praia Grande (ainda assim muito pequena perante tantas outras...) e fortes emoções no mar impiedoso,revolto e indomável da Costa Alentejana. Que por sua vez adivinhavam apetite redobrado. Arroz de lingueirão com choco frito no primeiro repasto. Antecedido da imprescindível casquinha de sapateira como entrada. E a que se seguiu as inevitáveis farofas para sobremesa. A juntar ao pudim de requeijão e nozes...

Onde? No inigualável Marquês, é claro. Este Restaurante/ Marisqueira de irrepreensível Imagem e Serviço junta-se à irresistível tríade que geograficamente constitui o mais curto circuito herege em Portugal (pela permanente evocação às heresias da gula), estrategicamente situada na Praça de que falei. A que se junta a pastelaria Marquês, de doces tão conventuais quanto irresistivelmente espirituais, onde o pequeno almoço e o lanche têm outro sabor. E que se completa com o bar Marquês, onde as noites frias de um alentejo Outonal ou Primaveril têm outro significado. Pela lareira, pela decoração rústica, pelo acolhimento, pela sensação de estarmos em casa (o malte e a cigarrilha têm outro sabor quando disfrutados entre amigos...)

Segundo dia: Porque o prazer é feito de excepções, recurso a uma casa alternativa para almoço. Igualmente bem servidos. Salada de Polvo, Ameijoa, Sapateira, num início de tarde regado de imperial...
Hora de jantar, regresso ao Marquês (que saudades!...) Para uns pimentos recheados de atum e sapateira (de entrada). Para uma reconfortante feijoada de búzios. Para um abacaxi extraordinariamente doce (ainda que a intenção fosse ajudar à digestão...).

Terceiro dia: Almoço no Marquês, para não variar. Creme de Marisco, salada de Ovas, Camarão Tigre (pelo prazer que proporciona merece maiúsculas...).
Jantar: No Marquês (já vos falei deste restaurante?). Uma incomparável cataplana de tamboril com ameijoas e gambas. A que se seguiram irresistíveis morangos regados com chocolate quente. Todos os jantares convenientemente regados com vinho branco alentejano. A destacar o da última refeição. Casa de Santa Vitória. O tinto já me tinha sido dado a provar na casa de um grande Amigo. O Branco não fica atrás...

Amanhã é dia de regresso. Ainda que as previsões apontem para um almoço em lugar alternativo depois de uma previsível e desejada manhã de praia onde se queimarão os últimos cartuchos na ânsia de conservar alguma da cor que ainda perdura, resultado do Sol inebriante de Cancun, parece-me que a vontade, mais que o destino, vai acabar por nos conduzir ao Marquês... Porque já falámos avidamente das ostras na chapa, das navalheiras, do bife de atum em molho de tomate, das espetadas de lulas com gambas, de...

Há maior prazer do que o de satisfazer as heresias da Gula em boa companhia num lugar de eleição? Bom, de facto a lascívia inerente ao pecado da luxuria...

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Erros...

Em mais uma divagação despretenciosa da minha mente e na sequência de um dia alucinante de trabalho onde as Leis de Murphy fizeram jus às suas premissas cheguei a uma conclusão. Tem tanto de simples quanto o peso da inevitabilidade que carrega...

Há duas situações passíveis de nos levar a errar:

- Quando não estamos conscientes de que podemos cometer um determinado erro
- Quando já estamos demasiado conscientes de que podemos cometer esse mesmo erro



Resta-me o prazer da tranquilidade de consciência nos erros que faço por não cometer... e dos que tendo cometido por inconsciência ou excesso do seu antónimo, assumo.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

O prometido...

De volta. Sobre Cancun, ainda que nada polida e de pouco ambiciosa pretensão literária, que me perdoem a única expressão que traduz o que sinto: É a P... da Loucura! De dia e de noite...

O resto? O resto são memórias...

quinta-feira, 27 de março de 2008

Contentores

A carga pronta metida nos contentores
Adeus aos meus amores que me vou
P'ra outro mundo

Ok, é retórico, eu vou mas volto sempre. Com muito mais dos outros. Com novas visões do Mundo, novas perspectivas do que nos rodeia. Com um leque mais vasto de experiências e um gosto ainda maior pelo nosso canto à beira mar plantado. Com muito (pouco) descanso e pouca (falta de) loucura. Com o olhar cheio de nada e a memória cheia de tudo. Depois de uns cantinhos (ainda poucos) na Europa seguiu-se Brasil, Egipto, Cabo Verde, Républica Dominicana... Agora chegou a vez do...México!

Cá vou eu... mas volto!

À ínfima distância de um... Natal!

Sobre troca de prendas e jantares de Natal tomo a liberdade de partilhar num ambiente mais... vasto(!) parte de uma troca de opiniões:


(...) Na realidade há já alguns anos que se tornou tradição no grupo de amigos que normalmente está presente nas minhas festas da "herdade". Curiosamente parece ser, cada vez mais, o único momento de união que realmente resulta entre nós. E é um facto que apesar do distanciamento que infelizmente (fruto de diversas circunstâncias) vai caracterizando cada vez mais as nossas amizades, o momento da troca das prendas continua a resultar em pleno, sem hipocrisias e com profunda dedicação de todos nós. Acho mesmo que esse é o cerne da questão. A dedicação, empenho e satisfação que cada um de nós dedica ao acto do sorteio, da escolha (e adequabilidade) da prenda e da entrega. Sem que o materialismo se sobreponha à dádiva. Certamente todos gostaríamos de dar a cada um dos que realmente têm um significado especial nas nossas vidas algo que marcasse simbolicamente o facto de nelas estarem presentes. Como financeiramente não é suportável, a alternativa das trocas serve em simultâneo de forte pretexto para estarmos juntos, fisica e espiritualmente. Rir e chorar, se assim se proporcionar (...)

(...) Posso também adiantar que fruto das relações amorosas que entretanto nasceram, foram-se juntando novas pessoas ao longo do tempo, o que em nada desproveu o momento do espírito inicial. Muito até pelo contrário, deu novo ânimo. De igual modo situações existiram em que pessoas também próximas "por afinidade", por motivos vários optaram não participar.
Acho que não podemos é deixar nunca que a divergência de opiniões, fruto muitas vezes de mal-entendidos, coloque em causa o que temos de mais precioso: as pessoas com quem partilhamos as nossas vidas e que, em última instância, lhes dão sentido. Acima de tudo temos de procurar a convergência, e na maior parte das vezes isso consegue-se tão simplesmente falando (...)


Curiosamente ou não, mantenho exactamente a mesma visão dos factos, decorridos que estão três anos sobre as linhas que agora partilho, e muitos, muitos mais sobre a amizade que nos une. Os momentos partilhados escasseiam mas continuam a valer por si. Porque acredito convictamente no valor da Amizade e ainda mais no Valor das Pessoas com quem tenho o enorme prazer de privar. Mas também porque nem sempre distância significa afastamento. E acima de tudo porque afinal o Natal é mesmo sempre que queremos. Basta crer...

quarta-feira, 5 de março de 2008

Respostas incómodas

Partilho (mais) uma divagação ociosa e despropositada da minha mente...

No pressuposto de que não há perguntas incómodas e de que a inconveniência está sempre na resposta, detesto ter que responder à pergunta elegível para o (meu) ranking das inconvenientes: "Que idade é que me dás?"

Há dois perfis de personalidade susceptíveis de lançar a questão... rectificação, lançar a pergunta (muito poderíamos dissertar sobre a diferença entre questão e pergunta):

- Os que tentam demonstrar com orgulho que o tempo não fez mossa e o calendário decorrido desde o dia em que deram à Luz está muito além da presente aparência e vigor físico, tentando iludir-se a si mesmos pela Vida não vivida que julgam poder ainda vir a viver (este é sem dúvida o grande segmento do mercado que lança a interrogação)

- Os que, bafejados pela incoerência das Leis da Vida, aparentam estar muito à frente na Linha do Tempo, e desse reconhecimento julgam estar aptos a tirar alguma vantagem, mais não seja a de surpreender pela positiva, conquistando admiração pelo pack aparentemente contraditório de mente jovial e ar paternal num só. Nesta segunda hipótese incluem-se ainda os que estando na referida situação possuem fortes dissonâncias perceptuais ou são eternos optimistas inseguros (trata-se de um nicho de mercado fortemente propenso a uma vida que terá tanto de honesta como de insegura e aborrecida)


Segundo (e último) pressuposto: Se estamos a ser confrontados pela pergunta presume-se que esta tenha origem em alguém com quem (ainda) não temos uma relação pessoal de proximidade (caso contrário teríamos elevadas hipóteses de saber a idade).


Ora todas os anteriores considerações para concluir que estamos sempre e incontornavelmente perante uma no win situation:

- Se acerto na idade defraudo expectativas e rompo com o perfil de personalidade assumido pelo interrogador;

- Se aponto para uma idade abaixo da real estou a tentar ser simpático, ainda que no fundo quem pergunta saiba que o que realmente penso está muito além do que exprimi, arriscando-me a um rótulo de hipocrisia;

- Se arrisco uma idade acima da real peco por excesso de frontalidade, insensibilidade ao que me rodeia, arriscando-me a assistir de 1ª plateia ao fim de uma relação que nunca começou, o início de uma crise depressiva ou, em última instância, às consequências nefastas de um ataque de nervos.

Em suma: Se às perguntas não pudermos (mesmo) fugir, há respostas que deveremos evitar a todo o custo...

(não, hoje ainda não bebi nada...)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Uma Voz Quente que abraça...

Depois de um jantar à altura de uma noite que se adivinhava de Lua Más rodónda ki Putchutcha, a pedir um regresso para breve ao misticismo do Orixas e à simpatia contagiante do staff vestido a rigor, só a voz quente de Mayra Andrade podia atestar de emoções a atmosfera de um Olga Cadaval ao rubro, ansioso por ouvir uma menina de olhos cor e forma de amêndoa e de olhar ternurento a fazer lembrar o fascínio de amêndoeira em flor.

O início foi algo tímido. Quiçá a revelar o receio da imponência da casa que a recebia no primeiro concerto desta desejada tournée. Quiçá a denotar uma imaturidade salutar, ajustada à idade. Esta menina é já uma Mulher. Depressa se percebeu que Mayra Andrade tinha muito mais para dar de si. Líndissima como sempre, num vestido preto que esbanjava eloquência e elegância (como se precisasse de tamanho adereço!), conquistou o público pela simplicidade, timidez e sinceridade das primeiras palavras pronunciadas em Português. Soube encher o palco com a sua presença e aquecer a plateia com a sua voz única e imponente. Como se tivesse nascido para o que canta. A fusão de Jazz, Bossa Nova, Ritmos brasileiros e Tradicional Cabo Verdiana resulta em pleno a cada nota, em cada acorde, a cada improviso, a cada passo da sua dança subtil, levitante e hipnotizante. A cada (Lindo) sorriso...

Curioso o melting pot que a plateia formou expontaneamente. Ouviu-se falar em Francês. Ouviu-se gritar por Sto. Antão, S. Vicente, Fogo, Praia, Sal... Ouviu-se chamar por Rio de Mouro e pelo Cacém (risos)! A comprovar que uma voz assim é digna de se ouvir em qualquer canto do Mundo. E de reunir consenso. Foi uma Honra. Foi um Prazer.

Inda minina na regasu, esta Senhora de apenas 23 anos soube impôr o Dom com que nasceu. Pôde inclusivé arriscar de forma bem sucedida uma incursão no Fado de Alfama. Às Divas tudo é permitido, porque tudo é bem sucedido!...

Na Dispidida ficou um triplo encore que se poderia prolongar pelo resto da noite. Também muito graças aos fantásticos músicos que a acompanham. A destacar a guitarra contagiante e a percursão a fazer descolar os pés do chão a cada segundo.

Ainda que consciente de que nenhum elogio estará à altura de tamanho talento arrisco-me a considerar que foi Comme s'il en pleuvait beleza e encanto. De alguém que vai crescer com o tempo. E tornar-se ainda maior!

sábado, 16 de fevereiro de 2008

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Vá-se lá saber como aconteceu, descobri esta manhã que tinha o meu carro bem longe da porta da minha casa...
E não é que andar a pé para o ir buscar me deu um prazer tremendo?!!!

Sweet 80's

Um dia destes, inesperadamente, juntei um album de peso à minha colecção (que prazer que dá vê-la crescer ao ritmo das novidades, da curiosidade e dos nomes míticos de que me vou recordando). A música tem o dom de despertar sentimentos latentes, adormecidos. Mas nem sempre resulta como esperaríamos. Por não ser o momento certo para ouvir ou tão somente por não valer mesmo a pena. Não foi o caso de 80's Best Rock. Ouvi-lo "na diagonal" superou todas as minhas expectativas e despertou sensações e recordações esquecidas bem no fundo do baú das memórias. São mais de cinco saudosas horas de rock da "velha guarda". Só para despertar a vossa curiosidade: D.A.D., Heroes del Silencio, AC/DC, John Cougar, Van Halen, Iggy Pop, Peter Gabriel, U2 (merecedores de um lugar especial na minha lista de preferências e fonte de memórias inesquecíveis da noite de 14 de Agosto de 2005), ZZ Top, Survivor, The Primitives, Midnight Oil, Violent Femmes, The Cult, Whitesnake, Man At Work, Lita Ford, e muitos, muitos mais...

Fechei os olhos. E voltei por momentos à doce irreverência - suficientemente moderada para a ela ter sobrevivido - da adolescência. Voltei às festas inesquecíveis da Secundária de Benfica, aos inícios de noite na casa do meu amigo Paulo, onde para além de admirar os quadros do pai, bebia whisky "martelado" com Sumol (pergunto-me hoje como foi possível), aos Surf 18 fumados sem gosto mas que encerravam uma posição de "maturidade alcançada" e consolidavam a noção de pertença ao grupo (são os desígnios da Sociedade e da doce ingenuidade que nos assola nesta fase da Vida...). Voltei ao consumo descontrolado de shots de Gold Strike, de Absinto, de Vodka e Tequilla, em chamas ou não, consumidos ávidamente nas ruas de Alcântara até que os escudos terminassem ou... o "barco virasse" (como é que é possível ter gostado de shots?!)! Voltei às noites loucas do Rock Line, onde o segredo do sucesso era incrivelmente tão simples quanto infalível: Copos e Rock (não necessariamente por esta ordem). Mas porque nem só de Rock e copos era feita a noite voltei a um espaço de culto nos roteiros históricos da Lisboa After Hours: O Alcântara Mar, o seu som extasiante e avassalador, a "sala de estar" decorada primorosamente num conceito único Old Styled, a irreverência formal do... staff. Às noites da Gartejo. Do Absoluto. Do Indústria. E voltei ainda à fidelidade incondicional às Levis 501, à imponência das Dock Martins, aos frágeis All Stars (tanto mais fashion quanto mais sujos e rasgados). E às esperas para apanhar o primeiro autocarro da manhã, depois do estômago devidamente reconfortado por um hamburguer ou cachorro (troquei nos dias de hoje por dois irresistíveis jesuítas da Evian com um quarto de Vigor). E às molhas que regelavam até aos ossos nas noites de Inverno. E ao descanso reconfortante, acolhedor e extraordinariamente protector da casa da Avó (Obrigado por teres sido quem Foste...)...

Ok. Não foi bem nos anos 80. Mas podia perfeitamente ter sido. E se apenas temos uma Vida para viver, já a música é intemporal. Por tudo o que descrevi presumo que me imaginassem hoje nas noites do Plateau. Mas não. Salvo decisões pontuais tácitamente aceites em função do gosto das pessoas com quem se está (porque no fundo poder estar com quem se gosta é o que dá sentido ao fascínio da noite), o Plateau não é para mim destino de eleição. Porque existe uma diferença abismal entre nostalgia e revivalismo. Ser nostálgico dá-me prazer. Detestaria ser revivalista. Porque gosto de viver o presente como ele é, tentando disfrutar do que tem de bom. Da mesma forma que gosto de olhar para o passado e relembrar o que teve de único (porque são as boas recordações que deverão persistir no tempo).

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Obrigado

Um amigo é uma pessoa com a qual se pode pensar em voz alta.

Ralph Waldo Emerson

É com o maior Prazer que escrevo...
Obrigado por serem quem são!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Tributo às favas com entrecosto

Quando adiamos certas decisões fazêmo-lo na maior parte das vezes por uma avaliação inconsciente de custo/benefício. Construímos mentalmente uma matriz muito mais complexa do que na maior parte das vezes poderíamos supôr. Quanto daquilo que receamos mais não é que a falta de um proveito evidente de mudança? Desconstruir a matriz de que falo revela um exercício de profunda reflexão e ponderação. Quem me conhece sabe que gosto de jogar pelo seguro, vibro com "riscos controlados".
Certo também é que facilmente nos acomodamos ao conforto que a estabilidade nos proporciona. Romper com hábitos e costumes é um acto solitário e revolucionário muitas vezes inevitável para que se consiga evoluir. Enquanto pessoa mas também enquanto Seres sociais que somos.

Posto isto onde raio entram as favas com entrecosto?
Estiveram lá a todo o momento. Senão vejamos:
A rotina a que a vida profissional nos obriga gera hábitos que se enraizam no tempo e nos gestos quotidianos. Preparar o saco que carrega a refeição do dia a dia torna-se um acto irreflectido, previsível, objectivamente rotineiro. Tirar proveito da refeição que se carrega é de igual modo uma prática constante e assumida, que nos proporciona um prazer dissonantemente subavaliado. Até ao dia em que tomamos uma decisão que implica ruptura com uso e costumes. E olhamos para a quantidade de elogios, admirações e cobiças de que a refeição foi alvo. E com isso nos apercebemos que a satisfação que nos proporciona é inigualável. Porque quem a confeccionou fê-lo com o gosto de o poder proporcionar. A Felicidade de ter uma Mãe que a seus olhos nos vê em permanente crescimento é um daqueles prazeres inexpressáveis...
Este é claramente um ponto negativo na matriz da mudança. Mais ainda quando falamos nas favas com entrecosto, que têm a extraordinária capacidade de atenuar significativamente o pecado da Gula...

É com toda a lamechice, parcialidade e imodéstia que escrevo... Obrigado Mãe, por todas as "favas com entrecosto" com que me tens presenteado ao longo da Vida!

Saber a Mar

Este foi um fim de semana de emoções fortes. Por tudo aquilo que trouxe de bom e de mau.

Se o compromisso original e implicitamente assumido de utilizar o blog para veicular a expressão escrita do Prazer seja desculpa por si só suficiente para não escrever sobre o que de menos bom se passou, a forte convicção de que devemos ser criteriosos e moderados nas opções que tomamos quando chega a altura de partilhar sentimentos de mágoa, dor, preocupação ou sofrimento atenua qualquer chance remota destas linhas se prolongarem enquanto preâmbulo da tristeza. Para isso contamos com os verdadeiros Amigos.

Assim sendo resta o que de bom se passou. Mas porque há momentos especiais que conservamos imperativamente como Nossos, até porque o seu significado só a Nós pertence, resta escrever sobre o que tem sentido partilhar...

O regresso do bom tempo trouxe consigo um vigor insubstituível aos dias que se viveram. O Sol tem a extraordinária virtude de mexer connosco na vertente física e psíquica.
Saiu-se literalmente à rua, na avidez de aproveitar cada um dos raios de Sol que de tudo o que de bom proporcionam, num ápice se ocultam. É sempre assim com as coisas boas da Vida. O tempo passa sempre mais depressa quando delas desfrutamos.
Perante as circunstâncias não podia deixar de aproveitar para atenuar a saudade de uma grande paixão: o Mar. Não que a ausência de Sol a descoberto e em plena irradiação de calor sirva de desculpa para ditar o afastamento de uma paixão, mas é um facto que o fascínio do seu reflexo na superfície do Mar produz um encanto único, de enamoramento incondicional, valendo no seu conjunto muito mais que a soma das suas partes. E assim se passou um daqueles ínfimos momentos de uma Vida que valem pelo seu todo, que lhe dão um sentido para além do lógico e racionalmente compreensível. O som portentoso, o cheiro inebriante, o ar incomparavelmente respirável, contribuem para a composição de um quadro que nenhum Autor ousará replicar, pela imensidão mas também, e acima de tudo, pela extraordinária simplicidade da sua beleza. Já experimentaram divagar sobre a linha do horizonte enquanto nela centravam atenções? Aquela que os meus olhos vêem é a mesma que os Vossos alcançam? Só nos fascina o que sabemos não poder alcançar? De onde advem tamanha exactidão? Experimentem fazê-lo. Deste exercício de moderada loucura retiro muitas explicações metafísicas do que é a Vida e o que representa Vivê-la.

Um momento incrivelmente efémero mas extraordinariamente reconfortante e compensador. Anseio pelo regresso à sua imensidão, seja para mergulhar no desconhecido das suas profundezas, na serenidade tridimensional do vazio, na ilusão de que não existe atracção gravitacional, seja para viajar ao sabor das suas correntes ou para contrariá-las respeitosamente no desafio humano da mobilidade aquática. Ou seja tão somente para, extasiado, contemplá-lo...

Da metamorfose de uma Paixão sustentada no tempo resultam grandes ensinamentos. Saber a Mar é uma virtude...

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Há Palavras que Nos Beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

Na voz de Mariza beijam ainda com maior intensidade...

O regresso do "grupo do Kléber"

Aproveitei uma boa parte deste fim de semana (mais ou menos) prolongado para estar com aquele que ficou conhecido como o "Grupo do Kléber".

O improvável, para minha surpresa e enorme satisfação, aconteceu...

Passo a explicar: Em Outubro de 2007 tive a oportunidade de passar uma (pequena) semana em Salvador da Bahia. É um facto que a distância propicia maior facilidade de relacionamento. Parece-me relativamente natural que assim seja. Principalmente porque rapidamente encontramos algo em comum com quem, em circunstâncias ditas de normais, esse mesmo "algo" ditaria o afastamento quase certo. Adaptamo-nos surpreendentemente às realidades que vivemos.

E assim foi: Uma viagem desgastante com uma companhia aérea pontualmente atrasada, onde o conceito de cobertor e almofada não é conhecido e para a qual estava prevista uma PEQUENA escala em Porto Seguro (com isto poupam-se uns trocos, porque o desejo voraz de conhecer mundo é inversamente proporcional à evolução dos fundos que escasseiam na carteira). Mas do pequeno se fez interminavelmente grande. Principalmente quando se classifica de Aeroporto Internacional um barracão pré-fabricado para onde nos deslocamos a pé percorrendo uns metros bem ao lado da pista em que aterrámos (o que não sendo a primeira vez que acontecia não constituiu fonte de surpresa). Esperava-nos uma espécie de "cubículo", limitado de um lado pelas fitas que definiam o início das filas para os postos de Polícia Federal e por outro pelas portas de vidro com vista para a pista e direito a assistir à manutenção do avião (deixem-me partilhar que o espéctaculo dos funcionários que sobem as escadas de balde e esfregona em riste para limpar as casas de banho não é nada bonito de se ver... é só puxar pela imaginação, alimentada por 7 horas de entradas e saídas no único espaço "privado" do avião. De resto o ar "motivado" com que se movem parece confirmar as piores suspeitas - trabalho de m...).

Para ainda maior desespero dos fumadores, privados do vício ao longo de 7 horas e frustrados pelo excesso de zelo de uns Senhores que, à saída das portas e primeiro contacto com o solo, teimam em impedir que se fume junto aos reactores do avião (vá-se lá entender!) , o "cubículo" era uma área onde não se podia MESMO fumar. Pois que em nenhum lugar estava expressa a proibição de queimar uns cigarritos no WC. E assim foi. O cenário comprovava a fraqueza da condição Humana. Quem estava em escala para Salvador e tinha que voltar ao avião aproveitou todos os segundos entre a entrada na casa de banho e a chegada do segurança para inalar tanto fumo quanto aquele que todos os alvéolos pulmunares conseguissem reter. Abençoada nicotina que corria agora naquelas veias... Desgraçados dos que, alheios ao vício, tiveram de encontrar um urinol no meio do smog...

Todo o detalhe para explicar e enquadrar o momento em que tudo começou. A primeira fraqueza comum levou inevitavelmente à conversa e comentários de circunstância. O destino fez cruzar no mesmo ponto o caminho de vida percorrido, independentemente da fase do seu percurso em que cada um se encontrava. A espera que se veio a revelar interminável (percebemos entretanto que se trata de um vôo non-stop à volta do mundo que pára em Porto Seguro para abastecer) proporcionou o tempo necessário para atenuar inibições e soltar desbloqueadores de conversa. E assim se deu início a uma amizade improvável...

Senão vejamos: Em que circunstâncias se reuniriam expontaneamente um Casal simpatiquíssimo e animado, em lua de mel (vindo de V N Famalicão), uma Sra. da Régua com um espírito incrivelmente jovial e bem disposto e que viaja habitualmente sozinha, mais um casal (de Oeiras) com anos de vida em comum a marcar os momentos pela simpatia, cordialidade, serenidade e boa disposição, dois amigos de meia idade e dose inteira de loucura e animação(vindos de Carnaxide), a viajarem sozinhos, Nós, e last but not least, um cromo em potencial crise de identidade que se junta ao Grupo vindo não se sabe bem de onde e ido vá-se lá saber para onde?

Se da experiência de viagens passadas constatei que quem partilhava meio de transporte tendencialmente fazia por não se encontrar no destino, nesta funcionou bem ao contrário. A isso também ajudou a boa disposição e enorme sentido de oportunidade do nosso interlocutor com a operadora turística, o Kléber. Bon Vivant q.b., soube sugerir (e vender). E o Grupo alinhou e retribuiu. Ajudou o facto de haver quem conhecesse sobejamente o destino. Esporadicamente começámos a programar os dias juntos. E a tirar prazer de o fazer!...

Os detalhes da estadia ficam naturalmente na experiência e recordação de quem a viveu. Até ao inevitável regresso o tempo corre num ápice. É sempre assim com as coisas boas da Vida!...

Último local em comum: Portela. Este é o ponto onde o mesmo destino que nos une nos encarrega de afastar. Devo confessar de experiências anteriores que os contactos pessoais (telefones, e-mail) que se trocam formalizam habitualmente a despedida. É algo de estranho. Entoa-se um "até um dia" com a mesma sintonia com que se sente que esse dia nunca vai acontecer, mesmo sabendo que está à distância de um telefonema. Mas aquilo que noutras condições poderia ser classificado de hipocrisia, nas circunstâncias em que se dá revela um desejo sincero mas utópico, muito maior do que a convicção de que se venha a verificar...

...E esse "um dia", para minha satisfação (e atrevo-me a arriscar que de todos), triplicou-se ao longo dos últimos dias! Definitivamente algo mais forte que um destino de férias em comum nos uniu. Acredito convictamente que tenha sido... a diferença! O prazer de partilhar diferenças nos estilos de vida, na idade, nas vivências, nas atitudes e convicções, leva-me a crer convictamente que muito tenho para aprender com os outros. Dando em troca a minha modesta contribuição. Mas ainda que modesta, dada com a maior das satisfações. E assim foi. E assim se atenuou o Saudade, e assim se comemorou a Amizade.

Como óptimos momentos de que se trataram passaram em velocidade supersónica. Terminaram com a oportunidade de conhecer um bar que me surpreendeu positivamente em várias dimensões. Na decoração, no acolhimento, no conforto, na discrição, na aura de romantismo histórico que se sente e dificilmente se explica. Bem mais perto de mim do que aquilo que pudesse alguma vez imaginar. Ao jeito British. Um sítio a que definitivamente faço questão de voltar...

Na despedida trocaram-se votos de nova reunião magna do grupo do "Kléber". "Las Ramblas", cá vamos nós! Curioso (ou talvez não) que agora creio convictamente que acontecerá. Ao contrário do que senti na Portela. Porque a Amizade tem destas coisas...

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Boa Sorte (Porque a Sorte dá trabalho...)

"muda de vida, se não vives satisfeito"

"Um passo em frente? pelo menos um pisca para a esquerda para me colocar numa faixa que anda mais depressa..."

in http://www.ameusolhos.blogspot.com/

Numa perspectiva de mero egoísmo perco o contributo profissional de Alguém incomparável, inconfundível, e de quem, sem qualquer margem para dúvida, muito se continuará a falar. No bom sentido. No sentido das Atitudes genuínas, do companheirismo, da entreajuda, da dedicação, do empenho, dos risos e sorrisos, da saudável loucura...
Mas nenhum sentimento de perda transcenderá a sensação de ter ganho um verdadeiro Amigo. Porque a verdadeira Amizade é de um Prazer inigualável!
Atrevo-me a dizer (parcialmente citando): Feita que está a mudança de faixa, e porque a Sorte dá trabalho, BOA SORTE AMIGO!


segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Bom senso

Partilho mais uma divagação da minha mente...

No seio da minha Vida profissional um dia alguém sugeriu como resolução de um potencial problema futuro a aplicação de bom senso. Seria tudo bem mais fácil se assim fosse. O problema é que ainda está para vir o Indivíduo que olhe para si e diga para os outros: "Não sou uma pessoa sensata". Podemos assumir a teimosia, a avareza, a antipatia, a "personalidade forte" (recuso-me a tecer comentários sobre esta suposta característica humana), entre um número inimaginável de defeitos. Mas nunca a falta de sensatez. Pura e simplesmente porque para assumir que não temos bom senso teríamos de ser sensatos. Desta incongruência chegamos à conclusão de que se tratam de factos mutuamente exclusivos e como tal nunca se verificarão.

Assim sendo nunca deixem a solução dos vossos problemas na sensatez dos outros. Somos demasiado falíveis...

O Restaurante e o Filme da Semana

Nota Prévia: O meu conceito de semana difere um pouco da convenção, daí que o enquadramento temporal dos acontecimentos possa suscitar algumas dúvidas a quem se dê ao trabalho de os tentar compreender. A minha semana termina quando (finalmente) chego a uma folga. E começa um, dois ou três dias depois, de acordo com os desígnios do trabalho, esse mal inevitável, essa fonte inesgotável de amor-ódio.
Assim sendo, esta semana (semana passada de acordo com a convenção) revisitei em inigualável companhia um Restaurante que tive oportunidade de ver nascer, bem no centro de Lisboa, há poucos anos atrás. Apesar de algumas críticas recentes que ouvi acerca do atendimento achei que seria o sítio certo para visitar no dia em causa. A reserva adivinhou-se mais fácil do que o esperado, ainda que condicionada ao horário de ocupação da mesa. Ainda assim, o conversa telefónica de poucos segundos transpareceu profissionalismo, empatia e acima de tudo uma óptima noção do que é ser comercial. O convite para depois do jantar ocupar o Tapas Bar pareceu-me a solução óptima para contornar as limitações de tempo impostas.
Pois é, que me desculpem os descrentes, mas senti convictamente que o Luca (www.luca.pt/) soubre crescer com o tempo. Se é local de moda, seguramente é merecido. A simpatia, rigor e profissionalismo de toda a equipa confirmaram-se. O convite para um mojito e uma caipirinha antes de ocupar a mesa resultou em cheio como forma de fazer aguardar (nós é que estávamos adiantados). A fusão entre sabores Italianos e Portugueses continua a resultar em cheio. Nos couverts, nas entradas, na variedade e requinte dos pratos principais, nos "mimos" que pontualmente trazem à mesa. E o ambiente continua inigualável!
A surpresa estava para vir. Acabámos por ocupar o Tapas Bar por nossa iniciativa e sem qualquer imposição temporal. E o "cantinho" que encontrámos surpreendeu pela beleza aliada à simplicidade. Um local acolhedor para comer umas Tapas (não estivesse eu de estômago cheio...), beber um bom copo de vinho e esbanjar conversa. Um excelente local para um café, uma água ou algo mais liquidamente espirítuoso. E mais uma vez tudo valeu pelo prazer da companhia...

Mas porque também é possível tirar prazer da solidão e das virtudes do pensamento solitário, dediquei a tarde de hoje (final da minha semana, início da semana convencional) a fazê-lo. Manhã dedicada à máxima que adoptei à muito: Mens sana in corpore sano. Início de tarde para uns minutos de ócio, leitura, café e uma água ao ar livre (ainda é possível encontrar sossego no Centro de Lisboa e com isso conseguir conciliar tantas formas de prazer). Final de tarde para os fascínios audiovisuais do grande ecrã. E para a capacidade de nos absorver nos meandros criativos das estórias e História que nos contam.
Assim foi com um filme para o qual já levava expectativas altas, ainda que num primeiro contacto a sinopse não tenha suscitado grande curiosidade. Expiação (título original: Atonement) faz-nos viajar por uma dimensão cénica inigualável. A fotografia é uma preocupação constante e conseguida. O passado recente fica ali tão próximo. E as emoções fazem-se sentir nos intrincados meandros da Paixão, do Amor, da curiosidade humana, da irreverência da adolescência, do ódio, da desilusão, da injustiça, da guerra, da dor, da resignação, da distância, da proximidade, do mea culpa, da inevitabilidade, da injustiça ,do destino que construímos, do destino que nos destroem, da redenção, da cobardia, de um sem fim de sentimentos que se coadunam na construção de uma história de Vidas.

1ª Ideia a reter: a mesma realidade difere de acordo com os olhos que a vêem. Só vemos aquilo que queremos ver e em que ousamos acreditar, em plena e inconsciente convicção de que a vista não falha. Pretenciosa arrogância da raça humana. Vemos aquilo em que cremos, e o poder da mente é bem mais forte que o da Visão...

2ª Ideia a reter: Há erros de que nunca nos vamos poder redimir. E que possivelmente nunca encararemos enquanto erros, ainda que saibamos que o foram...

Expiação tem ainda a virtude de recriar um cenário dantesco, em plena II Guerra Mundial. Vale a pena centrar esforços na observação de cada um dos mais ínfimos pormenores (arrepiantes) da praia de Dunquerque e tudo o que lá terá sido vivido.

Last but not least...Cento e trinta minutos bem passados na companhia de Keira Knightley...


Posto isto, onde acabará a noite? Reservo-me ao prazer do segredo...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Silêncio

Sabemos que estamos em boa companhia no momento em que os silêncios deixam de ser incómodos.
Partilho o pensamento que retive de um filme de culto (Pulp Fiction, nascido da saudável loucura de Tarantino) e que ao longo do tempo se tornou para mim muito mais que mero conceito. Tornou-se uma lição de vida...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

鮨, 鮓 ou 寿司

Um destes dias regressei a um dos restaurantes que elejo na actualidade para uma agradável refeição. Porque alia a qualidade satisfatória (atrevo-me a dizer requintada) do Sushi a um atendimento cuidado e afável e a um ambiente fantástico. O Japa está localizado no renovado Campo Pequeno e para os sortudos que consigam uma mesa (para dois) junto à janela reserva-se um cenário bem agradável (propício a um jantar a dois...)

Devo reconhecer (agora publicamente) que o meu particular gosto pelo Sushi começou da pior forma. Partiu de mera curiosidade, despertada pela moda e divulgação daquilo a que hoje me atrevo a chamar de Arte. Como bom céptico que sou, fazer-me abdicar por um dia das inumeráveis virtudes da cozinha tradicional Portuguesa para experimentar arroz enrolado com peixe cru foi uma tarefa estóica e megalómana, acto de pura persuasão de quem cometeu tamanha proeza. Não podia ter corrido pior (passaram-se talvez 2, 3 anos)! Salvou-se a descoberta do Saké. Só na perspectiva de que não voltaram a sair do estômago pela mesma via por que entraram é que as novidades sólidas da cozinha Japonesa se salvaram.
Prometi (porque jurar é muito forte) que semelhante acto não se voltaria a repetir. Engulo hoje vagarosamente cada uma das oito letras da palavra promessa. Sinto-me como uma criança que no final do 1º dia de escola disse que não mais voltaria a tamanho sacríficio. E que hoje cresceu e frequenta um Mestrado, ávida de saber mais e mais...
Pois é, há prazeres que se aprendem, se negam e rejeitam convictamente numa primeira abordagem mas se constroem sólida e estruturadamente pela experiência. E no momento em que se revelam enquanto prazeres chegam para ficar.

Nesta aprendida e mais que apreendida experiência dos sabores únicos do sushi, maki, sashimi, ovas de salmão, gengibre japonês e wasabi me rendo à constatação de que as primeiras impressões podem ser falaciosas... Até porque se assim não fosse não teria regressado à insubstítuivel presença de uma boa garrafa de vinho na mesa...

Recomendo dois locais de Culto (muitos mais por aí existem que não merecem referência e muitos mais ainda existirão dignos de tamanha distinção que simplesmente não conheço): Aya (nas Twin Towers) e Japa. O primeiro pela inegável e inigualável qualidade de confecção e perfeccionismo. O segundo pelo acolhimento, como já referido. De qualquer modo, sobre este assunto aproveito a ocasião para sugerir a leitura do blogue de um grande Amigo e (em vias de se tornar) expert na matéria: http://www.peixecruebom.blogspot.com/ .

Devo ainda reconhecer uma grande virtude da cozinha Japonesa, na vertente da confecção (perante o meu gosto pela cozinha não resisti a aventurar-me...). O tempo e dedicação que requer (porque a pressa é mesmo inimiga da perfeição), a capacidade de reunir um grupo de amigos à volta da elaboração de pratos visual e esteticamente aprazíveis.
E depois vem o melhor. O prazer da partilha de sensações, de paladares (estes não se explicam, sentem-se). Sempre no previlégio de boa companhia...

1ª Conclusão: Se há coisas que não mudam nunca, não é esse definitivamente o caso da culinária. Vivemos demasiado envolvidos nas raízes culturais que nos abraçaram desde infância. Não é um facto censurável. São os desígnios do fenómeno da continuidade mas também da acomodação e resignação Humana. De vez em quando é bom quebrar com a rotina e descobrir que muito de fascinante existe para além do que conhecemos.

2ª Conclusão: Os prazeres da mesa só têm sentido em boa companhia. Porque o meu maior Prazer (também) é o Prazer dos outros...

domingo, 20 de janeiro de 2008

Lisboa (ainda) respira

Adoro o Monsanto!
Adoro (re)descobrir o Monsanto em todas as suas vertentes...

Em BTT.
Quem pedala sabe o quanto significa cada gota de suor que se perde (e se ganha) no dispêndio de energia que nos leva mais além. Sabe o quanto vale conquistar uma subida, sabe quão prazeroso se torna atingir o início da descida que nos leva, muitas vezes em pequenas fracções de tempo, a voar baixinho (mas ainda assim a voar...). Quem pedala sabe o que significa sentir o estímulo natural da adrenalina a fazer bater o coração mais forte, a fazer depender dos instintos e dos reflexos a continuidade da viagem (e quantas vezes da Vida). Esta simbiose entre pernas e pedais ganha ainda mais encanto quando enquadrada cénicamente nos fascínios do Monsanto. Quantos single tracks se inventam, se repisam, se atalham... Quanto vale o cumprimento aos desconhecidos que há muito se perdeu mas aqui se reencontrou. Quanto vale a entreajuda que prevalece nos imprevistos. Quanto vale o som do vento nos ramos imponentes. O som dos animais que timida e ocasionalmente se fazem ver. O silêncio imponente de cada paragem. O cheiro da terra. O cheiro da Natureza. O ar que se respira. Os raios de sol que teimam em romper nas mais frondosas e imponentes copas de árvore, e com eles reproduzem um cenário idílico, de recônditos encantos. O verde a perder de vista. Quanto vale cada segundo que se vive na expectativa de saber o que de novo vai surgir na fracção que se segue.
E se tudo isto não fosse por si só suficiente... Quanto vale cada uma destas sensações no mistério da noite. Na incerteza do desconhecido. No fascínio da obscuridão. Ou sob a mais intensa chuva. Que nos proporciona a sensação única do cheiro de terra molhada. Do som do seu impacto, que envolve como nenhum outro. Da água que nos escorre fria pelo corpo e com a sua passagem revigora a mente. E por consequência... da lama que teima em cobrir a mais infíma superfície que no seu caminho ouse surgir. E que por muito ridículo ou estranho que possa parecer proporciona um prazer inigualável. O de quebrar convenções, o de fazer sentir tactilmente a natureza. O de sujar como contrapartida mais que justa dela usufruir...

De "cabelos" ao vento.
A vertente civilizacional e urbanizada do Monsanto ganhou definitivamente um lugar (ainda que recente) na minha Vida. O previlégio de percorrer de "cabelos" ao vento (valerá a pena explicar o porquê das aspas?) o esfalto que o cruza e o liga à cidade traz algo de novo no campo das sensações que têm tanto de fascinante como de inexplicável. Talvez porque nestas circunstâncias o vento bata mais forte. E com o seu vigor nos obrigue a respirar muito mais intensamente cada um dos seus fascínios...

A pé.
Não que faltem circuitos pedestres no Monsanto. Mas nestas cirscunstâncias reservo-me regularmente a usufruir de dois locais mágicos (que me perdoem o egoísmo de não partilhar localização mas o fascínio da magia está no segredo). Pela imponência da vista panorâmica que nos oferecem. Pelo sossego reconfortante. Pela presença ou ausência de quem deles desfruta. Pela ordem e disposição de cada um dos seus elementos. Mas também e acima de tudo por cada uma das emoções que neles vivi, neles recordo, neles (re)Vivo...

Em harmonia.
Por tudo isto, infíma parte do que se sente e do que haverá por descobrir, tenho no encanto do Monsanto fonte de inesgotável harmonia... e de incomparável prazer .

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Tributo à Fermentação da Cevada

Definitivamente a Vida é feito de pequenos (Grandes) momentos. Como aqueles que tive oportunidade de vivenciar ao longo dos dois últimos dias. Excederam-se as expectativas. Um pretexto pouco elaborado e credível a fundamentar a viagem, um Grupo de "bons rapazes", uma grelha na qual as brasas se guardavam religiosamente incandescentes no intuito de satisfazer permanentemente o apetite voraz das almas esfomeadas, muita (para cima de muita) "mine", destiladas q.b., numa combinação digna de atenuar consideravelmente o irresístivel pecado da Gula (cá está o terceiro, em tão pouco temp0...). Valha-nos o vigor dos fígados alcoolicamente conservados e das mentes que por muito ébrias que estejam sabem sempre qual o caminho de regresso, ainda que regressem muitas vezes sem saber ao certo para onde.

Na verdade, as sensações não se explicam. Vivem-se. E aquelas que experienciei ao longo de uma jornada com muito pouco descanso valeram definitivamente por uma pequena (Grande) Vida. É em momentos assim que sinto que o descanso pode sempre esperar mais um pouco...

Que me perdoem os fundamentalistas que suportam uma vida saudável em hábitos regrados de consumo. Os exageros são a excepção que confirmam a regra. Alguém disse um dia: "Realidade é uma ilusão que ocorre devido à falta de álcool". Se assim é então que se exagere (ocasional e responsavelmente) do álcool que corre nas nossas veias!

No âmbito do que foi escrito há que fazer um tributo ao que de tão fantástico a Humanidade soube criar, que do Ouro que a terra ciclicamente nos dá (fazendo brotar do chão o pão que nos alimenta) soube - por uso da criatividade, do engenho e da necessidade -criar tamanha preciosidade - a cerveja*. Que os exageros continuem por muitos e bons anos, ao ritmo dos brindes que alimentam, também esses num exagero que se deseja eterno. Por comemoração da Amizade. Por comemoração da união despretenciosa. Por comemoração dos disparates non sense que nos fazem rir. Por comemoração das emoções que nos deixam de lágrimas nos olhos (porque um Homem também chora). Por comemoração das confissões sinceras que de outro modo talvez não acontecessem. Por comemoração da doce e saudável loucura que invade a nossa mente. Da diferença de opiniões (e da semelhança em ser diferente). Da tertúlia. Da virilidade. Por comemoração do Calor que percorre as nossas Artérias.

A Vida vale pelo que dela fazemos. E se tudo isto é ser bêbado, então que nos embebedemos com (e de) Prazer de viver...



*Muito anseio em escrever quanto ao prazer de apreciar a destilação da cevada e adição do malte. Pelo destaque que merece ficará para outras núpcias...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Felicidade

Quem me conhece sabe o que sinto no que respeita ao conceito de felicidade. Não acredito no SER Feliz. Mas creio convictamente no ESTAR Feliz. Este conceito obriga-me a procurar incessantemente a felicidade. E a continuar a procurá-la depois de a ter. Como uma relação de interminável enamoramento...
Maior exigência, maior retorno. Parece-me ser a lógica da Vida. E do Prazer de Estar Feliz...

Fim de Semana

Parece-me redundante adjectivar o fim de semana de prazeroso. Não deixo ainda assim de expressar publicamente a euforia (tão efémera...) da sua conquista cíclica. Fantástico, é como se fosse sempre o primeiro das nossas Vidas!
Estaria suficientemente feliz pelo facto de ser Sexta-feira. Mais feliz fico por saber que vou ter oportunidade de estar fora entre amigos. No bucolismo das planícies alentejanas. Em contraste com a agitação que o Grupo em causa carrega consigo. Dois dias que valem por uma vida (e quem lá vai estar sabe porquê). A euforia roça a infantilidade, de tanta ansiedade gerada.
Curioso o facto de conseguir tirar (quase) tanto prazer da expectativa como da vivência. Prazer a dobrar!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Soraia...

Tive ontem o enorme prazer de ver na grande tela a sensualidade extrema da mordida de lábio da actriz Soraia Chaves (in CallGirl). Sem prejuízo das suas capacidades artísticas (há que reconhecer as suas capacidades neste tipo de papel) é nato o esbanjar de sedução de alguém que Dignifica em grande escala o lado carnal da Beleza Feminina.
Claro está que para manter o Mito é necessário não desconstruir a Imagem que criamos. Não que me importasse em me cruzar na rua (e na Vida) com a Soraia mas esse seria o dia em que o fascínio caía por terra (nasceria outro ainda maior?)...
É verdade, quase me esquecia do filme. Argumento razoável, sem acrescentar nada de novo, mas que permite gastar cerca de 2h30 de modo agradável.
Que prazer, o do dolce fare niente de uma sala de cinema...

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Prazer pela Vida

Apraz-me falar do Prazer de Viver. Adoro o Vigor do "V" maiúsculo da Vida. Assusta-me a curta distância para o "a" minúsculo das alegorias da morte... Vicissitudes de quem tem um olhar céptico sobre a religiosidade. Previlégios de quem sabe que tem uma só Vida para dela tirar... Prazer...

Prelúdio (Nasceu por prazer...)

De uma terrível (e felizmente rara) noite de insónia nasceu o púrpuro prazer. Pelo puro prazer de partilhar os prazeres da Vida. Pelo puro prazer de escrever. Pelo puro prazer de formalizar na linearidade da escrita a subjectividade do Gosto. O Meu Gosto...

Púrpura (do lat purpura), s. f. Substância vermelho-escura, que se extrai da cochinilha; (...) in Pinheiro, Eduardo, Dicionário da Língua Portuguesa.

Púrpuro, o sangue quente que nos flui nas artérias e que com ele arrasta a essência da Vida... e nos faz sonhar

Não continuo sem antes de mais vos permitir alguns (breves) esclarecimentos.

1º Esclarecimento: Este blogue peca evidentemente pela falta de originalidade (quantas e quantas linhas se escreveram por prazer, sobre o prazer). É apenas mais um blogue, com uma ténue mas determinante diferença: É o Meu Blogue. Que me perdoem a soberba (e cá vai o meu primeiro pecado capital), mas as minhas (Pequenas) coisas dão-me tanto prazer quanto a possibilidade que tenho delas desfrutar. E sentir que crescem comigo!

2º Esclarecimento: É um blogue de mim para mim e para todos os que de o lerem (e reviverem) tirarem prazer.

3º Esclarecimento: Como de uma leitura analítica e atenta se depreende... Adoro parêntesis!(" ...frase que se interpõe num texto para adicionar informação, normalmente explicativa, mas não essencial. A característica fundamental dos parêntesis é não afectar a estrutura sintáctica do período em que é inserido." in Wikipedia). Se o essencial é invisível para os olhos (que prazer em ler Exupéry...) e como tal dispensa parêntesis, o contexto é determinante na mensagem e explica muita coisa...

4º Esclarecimento: Os prazeres de que vos falarei surgirão desordenados. Fluirão ao ritmo dos desejos, da vontade, da luxúria (e cá vai o meu segundo pecado capital), do desgosto de deixar de os ter (quantas vezes só aí percebemos que os tínhamos), da surpresa de os (re)encontrar, da consciência do que são, do seu toque carnal, da sua áurea espiritual...

E assim nasceu por prazer o meu gosto de escrever...