sábado, 5 de março de 2011

Passaram pouco mais de cinco meses desde a última vez que tive o prazer de estar na Castanheira. O que faz deste o momento ideal para escrever sobre as memórias desta Aldeia. Porque o tempo é o único conceito que tem a virtude de filtrar recordações, tornando-nos progressivamente mais exigentes e selectivos quanto às que de facto vale a pena manter (as intemporais, portanto...), seja pelo saudosismo que prorrogam no próprio tempo, pela felicidade com que nos prendaram, pelo seu simbolismo, pelo cunho de experiência única ou marcante...

E assim sendo, apraz-me recordar com imensa saudade a última digressão à Castanheira, onde tive o privilégio de participar activamente nas festas em Honra de Nª Sra. da Conceição. E tive o ainda maior prazer de poder vibrar, ao sentir o pulso ritmado e vigoroso de uma aldeia que está muito longe de estar adormecida... São as Pessoas que marcam as ocasiões, sem qualquer margem de dúvida, mas também não será de ignorar que os sítios onde as ocasiões se proporcionam são parte integrante de quem neles revê as suas raízes. E tendo tido o previlégio de sentir a prazenteira genuinidade, acolhedora hospitalidade e afável generosidade das gentes da terra, não resisto a observar que a Castanheira é uma daquelas pequenas grandes aldeias que podia perfeitamente adoptar como “a minha terra”.

Não foi esta a única ocasião que estive na Castanheira. Mas é factor comum a todas as visitas a sensação familiar e reconfortante de “estar em casa”. E nos dias que correm esta sensação é cada vez mais rara. Ou porque nos tornamos progressivamente mais exigentes com as nossas escolhas (será?...) ou então porque escasseiam locais em que consigamos projectar o ideal de uma vida: a concordância e sintonia entre a magistralidade e imponência do que de mais belo a natureza nos proporciona, aliada ao conforto incrivelmente simples mas exponencialmente prazeroso da obra erigida pelos Homens da terra, a pulso, a custo de muito suor e outras tantas lágrimas. E cada vez mais revejo neste conceito o segredo da felicidade. O retorno cabal às origens, à essência de uma Vida, às relações que perduram no tempo, aos laços de família ou amizade que fazem das nossas pequenas estórias quotidianas a História dos nossos sucessores.... e da Vossa (permitam-me a presunção de escrever “nossa”) Aldeia.

E assim sendo anseio por voltar. Para rever Pessoas, para reviver momentos, para poder disfrutar no expoente da frugalidade humana de cada um dos cinco sentidos a que a aldeia da Castanheira tem o dom de agradar de forma singular. E assim saciar a alma, com incrivelmente simples mas incomparavelmente agradáveis... memórias...

Hugo Cardoso

in Castanheira Jovem, Boletim nº 31, Dezembro de 2010