segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Saber a Mar

Este foi um fim de semana de emoções fortes. Por tudo aquilo que trouxe de bom e de mau.

Se o compromisso original e implicitamente assumido de utilizar o blog para veicular a expressão escrita do Prazer seja desculpa por si só suficiente para não escrever sobre o que de menos bom se passou, a forte convicção de que devemos ser criteriosos e moderados nas opções que tomamos quando chega a altura de partilhar sentimentos de mágoa, dor, preocupação ou sofrimento atenua qualquer chance remota destas linhas se prolongarem enquanto preâmbulo da tristeza. Para isso contamos com os verdadeiros Amigos.

Assim sendo resta o que de bom se passou. Mas porque há momentos especiais que conservamos imperativamente como Nossos, até porque o seu significado só a Nós pertence, resta escrever sobre o que tem sentido partilhar...

O regresso do bom tempo trouxe consigo um vigor insubstituível aos dias que se viveram. O Sol tem a extraordinária virtude de mexer connosco na vertente física e psíquica.
Saiu-se literalmente à rua, na avidez de aproveitar cada um dos raios de Sol que de tudo o que de bom proporcionam, num ápice se ocultam. É sempre assim com as coisas boas da Vida. O tempo passa sempre mais depressa quando delas desfrutamos.
Perante as circunstâncias não podia deixar de aproveitar para atenuar a saudade de uma grande paixão: o Mar. Não que a ausência de Sol a descoberto e em plena irradiação de calor sirva de desculpa para ditar o afastamento de uma paixão, mas é um facto que o fascínio do seu reflexo na superfície do Mar produz um encanto único, de enamoramento incondicional, valendo no seu conjunto muito mais que a soma das suas partes. E assim se passou um daqueles ínfimos momentos de uma Vida que valem pelo seu todo, que lhe dão um sentido para além do lógico e racionalmente compreensível. O som portentoso, o cheiro inebriante, o ar incomparavelmente respirável, contribuem para a composição de um quadro que nenhum Autor ousará replicar, pela imensidão mas também, e acima de tudo, pela extraordinária simplicidade da sua beleza. Já experimentaram divagar sobre a linha do horizonte enquanto nela centravam atenções? Aquela que os meus olhos vêem é a mesma que os Vossos alcançam? Só nos fascina o que sabemos não poder alcançar? De onde advem tamanha exactidão? Experimentem fazê-lo. Deste exercício de moderada loucura retiro muitas explicações metafísicas do que é a Vida e o que representa Vivê-la.

Um momento incrivelmente efémero mas extraordinariamente reconfortante e compensador. Anseio pelo regresso à sua imensidão, seja para mergulhar no desconhecido das suas profundezas, na serenidade tridimensional do vazio, na ilusão de que não existe atracção gravitacional, seja para viajar ao sabor das suas correntes ou para contrariá-las respeitosamente no desafio humano da mobilidade aquática. Ou seja tão somente para, extasiado, contemplá-lo...

Da metamorfose de uma Paixão sustentada no tempo resultam grandes ensinamentos. Saber a Mar é uma virtude...

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