terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

O regresso do "grupo do Kléber"

Aproveitei uma boa parte deste fim de semana (mais ou menos) prolongado para estar com aquele que ficou conhecido como o "Grupo do Kléber".

O improvável, para minha surpresa e enorme satisfação, aconteceu...

Passo a explicar: Em Outubro de 2007 tive a oportunidade de passar uma (pequena) semana em Salvador da Bahia. É um facto que a distância propicia maior facilidade de relacionamento. Parece-me relativamente natural que assim seja. Principalmente porque rapidamente encontramos algo em comum com quem, em circunstâncias ditas de normais, esse mesmo "algo" ditaria o afastamento quase certo. Adaptamo-nos surpreendentemente às realidades que vivemos.

E assim foi: Uma viagem desgastante com uma companhia aérea pontualmente atrasada, onde o conceito de cobertor e almofada não é conhecido e para a qual estava prevista uma PEQUENA escala em Porto Seguro (com isto poupam-se uns trocos, porque o desejo voraz de conhecer mundo é inversamente proporcional à evolução dos fundos que escasseiam na carteira). Mas do pequeno se fez interminavelmente grande. Principalmente quando se classifica de Aeroporto Internacional um barracão pré-fabricado para onde nos deslocamos a pé percorrendo uns metros bem ao lado da pista em que aterrámos (o que não sendo a primeira vez que acontecia não constituiu fonte de surpresa). Esperava-nos uma espécie de "cubículo", limitado de um lado pelas fitas que definiam o início das filas para os postos de Polícia Federal e por outro pelas portas de vidro com vista para a pista e direito a assistir à manutenção do avião (deixem-me partilhar que o espéctaculo dos funcionários que sobem as escadas de balde e esfregona em riste para limpar as casas de banho não é nada bonito de se ver... é só puxar pela imaginação, alimentada por 7 horas de entradas e saídas no único espaço "privado" do avião. De resto o ar "motivado" com que se movem parece confirmar as piores suspeitas - trabalho de m...).

Para ainda maior desespero dos fumadores, privados do vício ao longo de 7 horas e frustrados pelo excesso de zelo de uns Senhores que, à saída das portas e primeiro contacto com o solo, teimam em impedir que se fume junto aos reactores do avião (vá-se lá entender!) , o "cubículo" era uma área onde não se podia MESMO fumar. Pois que em nenhum lugar estava expressa a proibição de queimar uns cigarritos no WC. E assim foi. O cenário comprovava a fraqueza da condição Humana. Quem estava em escala para Salvador e tinha que voltar ao avião aproveitou todos os segundos entre a entrada na casa de banho e a chegada do segurança para inalar tanto fumo quanto aquele que todos os alvéolos pulmunares conseguissem reter. Abençoada nicotina que corria agora naquelas veias... Desgraçados dos que, alheios ao vício, tiveram de encontrar um urinol no meio do smog...

Todo o detalhe para explicar e enquadrar o momento em que tudo começou. A primeira fraqueza comum levou inevitavelmente à conversa e comentários de circunstância. O destino fez cruzar no mesmo ponto o caminho de vida percorrido, independentemente da fase do seu percurso em que cada um se encontrava. A espera que se veio a revelar interminável (percebemos entretanto que se trata de um vôo non-stop à volta do mundo que pára em Porto Seguro para abastecer) proporcionou o tempo necessário para atenuar inibições e soltar desbloqueadores de conversa. E assim se deu início a uma amizade improvável...

Senão vejamos: Em que circunstâncias se reuniriam expontaneamente um Casal simpatiquíssimo e animado, em lua de mel (vindo de V N Famalicão), uma Sra. da Régua com um espírito incrivelmente jovial e bem disposto e que viaja habitualmente sozinha, mais um casal (de Oeiras) com anos de vida em comum a marcar os momentos pela simpatia, cordialidade, serenidade e boa disposição, dois amigos de meia idade e dose inteira de loucura e animação(vindos de Carnaxide), a viajarem sozinhos, Nós, e last but not least, um cromo em potencial crise de identidade que se junta ao Grupo vindo não se sabe bem de onde e ido vá-se lá saber para onde?

Se da experiência de viagens passadas constatei que quem partilhava meio de transporte tendencialmente fazia por não se encontrar no destino, nesta funcionou bem ao contrário. A isso também ajudou a boa disposição e enorme sentido de oportunidade do nosso interlocutor com a operadora turística, o Kléber. Bon Vivant q.b., soube sugerir (e vender). E o Grupo alinhou e retribuiu. Ajudou o facto de haver quem conhecesse sobejamente o destino. Esporadicamente começámos a programar os dias juntos. E a tirar prazer de o fazer!...

Os detalhes da estadia ficam naturalmente na experiência e recordação de quem a viveu. Até ao inevitável regresso o tempo corre num ápice. É sempre assim com as coisas boas da Vida!...

Último local em comum: Portela. Este é o ponto onde o mesmo destino que nos une nos encarrega de afastar. Devo confessar de experiências anteriores que os contactos pessoais (telefones, e-mail) que se trocam formalizam habitualmente a despedida. É algo de estranho. Entoa-se um "até um dia" com a mesma sintonia com que se sente que esse dia nunca vai acontecer, mesmo sabendo que está à distância de um telefonema. Mas aquilo que noutras condições poderia ser classificado de hipocrisia, nas circunstâncias em que se dá revela um desejo sincero mas utópico, muito maior do que a convicção de que se venha a verificar...

...E esse "um dia", para minha satisfação (e atrevo-me a arriscar que de todos), triplicou-se ao longo dos últimos dias! Definitivamente algo mais forte que um destino de férias em comum nos uniu. Acredito convictamente que tenha sido... a diferença! O prazer de partilhar diferenças nos estilos de vida, na idade, nas vivências, nas atitudes e convicções, leva-me a crer convictamente que muito tenho para aprender com os outros. Dando em troca a minha modesta contribuição. Mas ainda que modesta, dada com a maior das satisfações. E assim foi. E assim se atenuou o Saudade, e assim se comemorou a Amizade.

Como óptimos momentos de que se trataram passaram em velocidade supersónica. Terminaram com a oportunidade de conhecer um bar que me surpreendeu positivamente em várias dimensões. Na decoração, no acolhimento, no conforto, na discrição, na aura de romantismo histórico que se sente e dificilmente se explica. Bem mais perto de mim do que aquilo que pudesse alguma vez imaginar. Ao jeito British. Um sítio a que definitivamente faço questão de voltar...

Na despedida trocaram-se votos de nova reunião magna do grupo do "Kléber". "Las Ramblas", cá vamos nós! Curioso (ou talvez não) que agora creio convictamente que acontecerá. Ao contrário do que senti na Portela. Porque a Amizade tem destas coisas...

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