sábado, 23 de fevereiro de 2008

Uma Voz Quente que abraça...

Depois de um jantar à altura de uma noite que se adivinhava de Lua Más rodónda ki Putchutcha, a pedir um regresso para breve ao misticismo do Orixas e à simpatia contagiante do staff vestido a rigor, só a voz quente de Mayra Andrade podia atestar de emoções a atmosfera de um Olga Cadaval ao rubro, ansioso por ouvir uma menina de olhos cor e forma de amêndoa e de olhar ternurento a fazer lembrar o fascínio de amêndoeira em flor.

O início foi algo tímido. Quiçá a revelar o receio da imponência da casa que a recebia no primeiro concerto desta desejada tournée. Quiçá a denotar uma imaturidade salutar, ajustada à idade. Esta menina é já uma Mulher. Depressa se percebeu que Mayra Andrade tinha muito mais para dar de si. Líndissima como sempre, num vestido preto que esbanjava eloquência e elegância (como se precisasse de tamanho adereço!), conquistou o público pela simplicidade, timidez e sinceridade das primeiras palavras pronunciadas em Português. Soube encher o palco com a sua presença e aquecer a plateia com a sua voz única e imponente. Como se tivesse nascido para o que canta. A fusão de Jazz, Bossa Nova, Ritmos brasileiros e Tradicional Cabo Verdiana resulta em pleno a cada nota, em cada acorde, a cada improviso, a cada passo da sua dança subtil, levitante e hipnotizante. A cada (Lindo) sorriso...

Curioso o melting pot que a plateia formou expontaneamente. Ouviu-se falar em Francês. Ouviu-se gritar por Sto. Antão, S. Vicente, Fogo, Praia, Sal... Ouviu-se chamar por Rio de Mouro e pelo Cacém (risos)! A comprovar que uma voz assim é digna de se ouvir em qualquer canto do Mundo. E de reunir consenso. Foi uma Honra. Foi um Prazer.

Inda minina na regasu, esta Senhora de apenas 23 anos soube impôr o Dom com que nasceu. Pôde inclusivé arriscar de forma bem sucedida uma incursão no Fado de Alfama. Às Divas tudo é permitido, porque tudo é bem sucedido!...

Na Dispidida ficou um triplo encore que se poderia prolongar pelo resto da noite. Também muito graças aos fantásticos músicos que a acompanham. A destacar a guitarra contagiante e a percursão a fazer descolar os pés do chão a cada segundo.

Ainda que consciente de que nenhum elogio estará à altura de tamanho talento arrisco-me a considerar que foi Comme s'il en pleuvait beleza e encanto. De alguém que vai crescer com o tempo. E tornar-se ainda maior!

1 comentário:

Tania disse...

Excelente crítica a um fantástico concerto.
Como estava lá...a probabilidade de ter sido eu a gritar Cacém, é grande! :)
Tenho o CD, autografado claro ;), que te empresto, se quiseres.
Bjs